A Sexualidade e as Relações entre os Gêneros:- Da Teoria à Ação (Parte IV)

O feminismo enquanto movimento social organizado, teve início no Ocidente, no século XIX, reivindicando o direito de voto às mulheres, posteriormente, outras se somaram a estas, ligadas a organização da família, oportunidade de estudo ou acesso a determinadas profissões (todas ligadas,é claro, aos interesses das mulheres brancas de classe média) ações isoladas ou coletivas, dirigidas contra a opressão das mulheres, podem ser observadas de forma mais calorosa, na década de 60. A partir de então, há uma maior preocupação com as construções propriamente teóricas, resultando a partir dos anos 80, a demanda por trabalhos na área da sexualidade, como conseqüência da preocupação das educadoras e dos educadores com o crescimento da gravidez indesejada entre as alunas e os alunos e com o risco da contaminação pelo HIV (vírus da AIDS) entre os mesmos.
E no que se refere à sexualidade, o trabalho pedagógico é feito principalmente através da atitude do professor e de suas intervenções diante das manifestações de sexualidade dos alunos na sala de aula, visando auxiliá-los na distinção do lugar público e do privado para as manifestações saudáveis da sexualidade correspondentes a sua faixa etária. É a partir desta percepção que a criança aprenderá a satisfazer sua necessidade de prazer em momentos e locais onde esteja preservada a sua intimidade.
Os conteúdos trabalhados devem também favorecer a compreensão de que o ato sexual e intimidade similar são manifestações pertinentes de jovens e de adultos, não de crianças.
Com relação às brincadeiras a dois ou em grupo que remetam à sexualidade, é importante que o professor afirme como princípios à necessidade do consentimento e a aprovação sem constrangimento por parte dos envolvidos. Para a prevenção do abuso sexual é igualmente importante o esclarecimento de que essas brincadeiras em grupo são prejudiciais quando envolvem crianças e jovens de idades diferentes ou quando são realizadas entre adultos e crianças. Ao mesmo tempo em que oferece referências e limites, o professor deve manifestar a compreensão de que as manifestações da sexualidade infantil são prazerosas e fazem parte do desenvolvimento saudável de todo ser humano. É necessário cuidado para não humilhar ou expor os alunos: tais manifestações não devem ser condenadas ou julgadas segundo doutrinas morais. Desta forma o professor contribui para que a aluna e o aluno reconheçam como lïcitas e legítimas suas necessidades e desejos de obtenção de prazer, ao mesmo tempo em que processa as normas de comportamento próprio do convívio social.
No discurso educacional, o conceito de família ainda é representado como a de classe média branca urbana e, nela, pai e mãe, bem como seus filhos e filhas reafirmam as formas tradicionais de masculinidade e feminilidade. Quando alguém diz que é preciso resgatar ou preservar os “valores tradicionais da família”,é desta família “normal”, com esses traços de etnia, classe e gênero, que está se falando.Mas, ao contrário do que esses discursos fazem supor, atualmente, é cada vez mais visível o número de lares mantidos apenas por mulheres que se revezam no cuidado dos menores e nos quais os homens adultos tem uma presença transitória; são freqüentes os arranjos familiares que incluem outras pessoas, parentes e vizinhos; muitos casais jovens e velhos compartilham a mesma moradia; cada vez mais parceiros do mesmo sexo estabelecem uniões estáveis; crescendo o número de pais que assumem sozinhos a educação de seus filhos e, freqüentemente, crianças dividem seu tempo entre a casa do pai e a casa da mãe - os quais, por sua parte, tem, muitas vezes, outros companheiros ou companheiras e filhos.
Por estas questões, há de se rever o papel da escola na sociedade, mais especificamente na comunidade em que está inserida, porque através do Conselho Escolar nela instalado, cria-se espaço para discussões que envolvam as relações de gênero e suas implicações; que o Projeto Político Pedagógico da escola reflitam as necessidades das pessoas e suas estratégias estejam voltadas para satisfazer a necessidade de inserção no meio social, porque a mulher e o homem de hoje necessitam de perspectivas amplas, de múltiplos pontos de vista näo podem ver-se limitados a uma só visão do mundo.
Conseguir uma educação não sexista é um problema de todos mas, por meio da escola, pode-se realizar um importante trabalho de transformação. Para isto, podemos ainda promover seminários, sessões de discussão e propostas de atividades, tendo alunas e alunos participação ativa, estimulando mulheres e homens a realizar pesquisa nos diferentes setores da economia formal e informal do bairro, solicitando ainda a participação daqueles responsáveis pela mídia (diferentes meios de comunicação) para divulgar, de forma planejada, as estratégias de açäo, objetivos e os avanços alcançados.
O registro de todas as etapas vivenciadas interdisciplinarmente poderá ser feito através de fotografias, filmagens, transparências, painéis, livros e outras atividades que as diferentes disciplinas do currículo escolar puderem realizar com a participação da comunidade.
Assim, a através da avaliação formativa, identifica-se os meios que permitirão sanar as deficiências ou entraves identificados durante o processo, resultando no êxito do “projeto” ou como quiser denominá-lo.